10 de out. de 2007

Che 40 anos depois: o fim de um mito?



Dono de uma das imagens mais reproduzidas no mundo, a história do revolucionário Che Guevara é recontada por reportagens

Imagine conhecer a história de um herói, ouvi-la durante anos, ver seu rosto estampado em camisetas, pôsteres, filmes e livros. E após 40 anos de sua morte, tudo ser posto à prova novamente.
Não trata-se da história imaginária, e sim de como ela passou a ser interpretada durante muito tempo. Com ajuda da mídia, da propaganda, seria possível mesmo construir um mito? Em recentes reportagens divulgadas em revistas e grandes veículos de comunicação, que trazem a imagem do revolucionário Che Guevara na capa, revelações sobre o temperamento fatalista do guerrilheiro, deixam um buraco na história, que segundo a reportagem, teria sido romantizada.
Verdade ou não, basta conversar com jovens do mundo inteiro para saber que Che, além de ter conquistado o gosto, também sempre foi considerado como um símbolo de resistência e liberdade. Imortalizado pelas lentes de Alberto Korda, o jeito de galã teria contribuído até mesmo na hora da morte, em 9 de outubro de 1967. “Ele parece Cristo”, teriam exclamado as primeiras pessoas que o viram após a saída de uma lavanderia de um hospital.
Mas, o autor da frase “Ay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás”, também teria sido conhecido por um gênio totalitário e adepto da crença pela violência política. Tinha fraqueza sim como todo homem feito de carne e osso, mas mantinha, segundo alguns entrevistados, uma fome pela violência. Em certa oportunidade teria recebido uma mãe desesperada atrás do filho de 15 anos, preso por pichar muros com inscrições contra Fidel. Informado de que o adolescente seria fuzilado em dias, ordenou que a execução fosse adiantada para a aquele momento. “Para que a senhora não passe angústia por uma espera longa”, teria justificado.
Antes disso, teria transformado a fortaleza de La Cabaña num campo de extermínio, segundo a reportagem. “Nos seis meses de seu comando, duas dezenas de desafetos foram fuzilados (...) a maioria era apenas gente incômoda”, apontam ao confirmar a minoria formada por agentes.
Em outro trecho apontam o perfil do guerrilheiro como “incapaz de compreender a vida em sociedade aberta e sempre disposto a eliminar a tiros os adversários”. Apontado na história como um talentoso comandante militar, companheiros de guerra afirmam à reportagem que a história na vida real era cercada por imprudências, irascível e rápido em ordenar execuções, “e mais rápido ainda em liderar seus camaradas para a morte, em guerras sem futuro no Congo e na Bolívia”. Além disso, diante de suas diversas investidas, aponta a revolução cubana como seu único sucesso.
Para o mestre em história social, Luiz Eduardo Pena Catta, a discussão e interpretações de matérias como as publicadas na grande imprensa nacional, merecem atenção do leitor. Segunso ele, devido a comemorações alusivas ao aniversário de Che e a visibilidade dada à imprensa à Cuba, esse pareceu o momento histórico de desmistificar o herói. “O complicado mesmo é ver que as fontes são todas da CIA, da direita, sem contar com os jornais e revistas que apostaram nisso. Até mesmo com a biografia de Joli Anderson, recortaram o que interessa. Diz lá no Estadão, que ele era um cara soberbo e severo com os demais, mas o cara era líder revolucionário, era complicado ser bonzinho”.
Para ele, a tentativa da imprensa ocidental em mostrar um lado B, ou desmistificar o mito criado em torno de Che, deve ser vista com olhos atentos pelos brasileiros. “Aqui isso é mais direcionado, querem mostrar para as próximas gerações que a história não foi tão romântica assim, mas qualquer um que lê a história da revolução Cubana sabe disso, sabe como foi”.
Segundo Catta, Che foi um revolucionário que viveu pelos seus ideais, abandonou sua terra e família para se embrenhar na mata boliviana e viver seus sonhos . “Tinha ideais muito arraigados e era convicto no que queria”. O professor ainda revela que justamente durante esse período, havia uma intensa polarização entre o bem o mau, de um lado o capitalismo e do outra a revolução, “e Che passou por cima disso”.
Catta ainda faz um alerta a impressões precipitadas sobre a história. Tem que pensar de duas maneiras; ele era revolucionário e não era ‘bonzinho’, queria colocar em prática e construir uma nova ordem política, outra é que para a visão capitalista ele foi mau, pois lutou contra os Estados Unidos. E hoje o que temos é que a mídia representa os ideais do capitalismo. Acho que não dá para ler nada nesse sentido e achar simplesmente que isso é gratuito”.
Para o jornalista Aluízio Palmar, que integrou as forças do MR8 na década de 60, a discussão deve ir adiante, “ele era um humanista”. Um exemplo desse comportamento vinha com a liberação de prisioneiros durante empreitadas na Bolívia e no Congo.”Para revolucionários, prisioneiro representava mais comida e atraso no percurso. Ele doutrinava, falava sobre a revolução e liberava para que a notícia pudesse se espalhar”.
Palmar lembra da passagem do revolucionário pela cidade. “Foi em 65 ou 66, quando o movimento nacionalista revolucionário tinha base em Foz, e Josá Canzi (falecido) era o cabeça chefe da mesa de rendas, ele que deu apoio ao Che quando passou aqui em direção a Bolívia”.
Não somente as relações como a influência do revolucionário, ainda parecem recentes na memória do jornalista. Quando recebeu a notícia da morte de Che, estava pronto para seguir até o Paraná, “no início não acreditei”. Com a confirmação, o grupo buscou inspiração ao símbolo do sonho, nascia o MR8, “escolhemos 8 pela data de captura”.
Quanto às reportagens, Palmar não desvia, “isso não afeta em nada”.


A matéria é da minha amiga, escritora, poeta, artista plástica e mãe da Izadora e do Enzo; DANIELA VALIENTE.

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