17 de jan. de 2010

Do lado esquerdo


Foi deitar impaciente. Rolava de um lado para o outro da cama tentando achar a melhor posição. Os pés quentinhos do inverno passado não estavam mais lá, e já fazia algum tempo. Embora ela estivesse acostumada a passar os domingos sozinha, aquele em especial a fez pensar.
Deitou na cama e refletiu sobre os últimos anos de sua amarga vida-doce-solitária e seu discurso de ‘super felizes para sempre’. O certo é que ela estava sozinha em seu apartamento no meio da madrugada e com uma xícara de café nas mãos. Os pensamentos vinham a tona e não a deixavam dormir.
O sentimento era de espera. Mas esperar a quem? Ela tinha a pura certeza de que ele não viria mais. Não mais. O problema era a esperança, aquela chata esperança de sempre acreditar no amanhã, no possível, na bizarrice de um amor.
Amor compreendido apenas por ela. Amor este que a fez perder os melhores anos de sua vida. Então, para se auto-sustentar, repetia constantemente que a saudade era apenas um puro prazer sexual e nada além disso. Mentia para os outros. Mentia para si. Para quê tantas desculpas? pensava.
Naquele momento, era apenas ela e um céu brilhante cheio de estrelas. Ela cantava para o céu, rezava para um ser superior. Pedia para que as semanas fossem boas, e os meses melhores ainda. Insistia em querer entender a humanidade. A burra humanidade.
Estava ali, deitada, triste, sozinha, sem saber do amanhã.
Queria que ele batesse a porta e desse uma desculpa qualquer para vê-la. Esperava algo sutil que a convencesse daquela paixão. No entanto, agradecia por ele não ter aparecido e nem ligado. Sabia que não era forte o suficiente para rejeitar um pedido. O amargo pedido.
Balançou a cabeça, sorriu e deitou do lado esquerdo. Apagou as luz do abajur e foi dormir.
Acordou na segunda-feira, passava das oito horas. Ela estava atrasada para o trabalho.

Um comentário:

Luciana disse...

Talvez ele tenha esperado pela mesma coisa.