Era mais um domingo qualquer. Não havia movimento nas ruas, nem barulho nas casas dos vizinhos. Apenas o som da chuva fazia companhia.
O telefone sequer havia tocado, quem dirá a campainha. Era mais um daqueles feriados prolongados onde as pessoas aproveitam para viajar, ir para o campo, a praia, o sítio. E ela? Bem, ela estava ali. Tão só e ao mesmo tempo tão viva. Sobravam-lhe horas para começar aquela história na antiga máquina de escrever que herdara do avô.
Era tão rara as vezes que sentava na escrivaninha, que viu naquela tarde de domingo o momento ideal para começar um romance. O som da máquina ecoava pelo pequeno apartamento no centro da cidade. Naquele dia, morar no centro já não era tão gostoso. Chegava a ser estúpido. Ela se perguntava o porquê daquela escolha tão errada. Morar no centro aos finais de semana era a cena mais deprimente que ela já tinha visto.
Pela janela, só se enxergava as luzes dos semáforos e o segurança da farmácia 24 horas. Se o tédio dela era imenso, quem dirá dos atendentes da farmácia. Pobres coitados, ela pensava. ‘Pobre coitada’ deveriam pensar dela.
Com pouco mais de dez linhas escritas, preferiu trocar o texto pelo filme que passava na televisão. Ao lado de Joaquim, seu gato, sentou no chão da sala e por ali permaneceu. Com seu pijama listrado de domingo e as pantufas de cachorro – que incomodavam Joaquim – ela pensou em ir até a padaria comprar um sonho. A preguiça era tanta que preferiu ficar com o pijama e esquentar mais um café.
As oito horas da noite os vizinhos começaram a chegar, deixando mais calmo aquele coração que não gostava de ficar sozinho. Era sinal de que todos agora se aprontavam para começar a segunda-feira, voltar a rotina.
Oito e vinte e cinco e a campainha toca. Era José, seu vizinho, parado na porta com os dois braços para trás, como se escondesse um presente. José era daqueles amigos que não fazia cerimônia. Um dos homens pelo qual ela admirava sem esforços. Um professor, escritor e amante da vida. Daqueles amigos que se pode convidar para um jantar cinco estrelas ou uma simples cerveja no botequim da esquina.
Enquanto José segurava o riso, o dela disparava. 'Surpresa boa', pensou.
Em um pequeno gesto, ele exibe quatro deliciosos sonhos de doce de leite que trouxera da viagem ao interior. ‘Olha o que trouxe pra você!’, disse ele. A tristeza daquele domingo já não existia. Alguém conseguiria mudar todo o dia com apenas um presente, um pensamento, uma gentileza. Então, ela o convidou para entrar e juntos comeram os sonhos, beberam capuccino e conversaram sobre a viagem de José.
A alegria voltou a reinar na sala, na cozinha, no apartamento e naquela vida. Até Joaquim havia acordado e se esfregava nas pernas de José, como se exigisse por atenção.
Poucas horas depois, os sonhos terminaram, mas a alegria permaneceu por pelo menos mais um domingo!
Bentido amigo! Bentido sonho!
Um comentário:
texto lindo nega!
copiei uns aqui,não resisti!
tu sempre se dando bem com as palavras! ;)
saudadoooona ;*
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