Minha família é um tanto quanto diferente do que se intitula “tradicional”. Talvez esta nem seja a palavra adequada quando o assunto em questão é o casamento. Depois que um dos primos resolveu noivar, a turma toda se animou. (Menos eu, é claro!). Dos quatro filhos da dona Anita, todos casaram. (Mãe e tia no civil e no religioso, os dois tios resolveram se ‘juntar’, como eles dizem). Dos nove netos da minha avó (sendo sete homens e duas mulheres), a contagem dos namoros começou diferente da escala por idade. Esperava-se que o neto mais velho casasse primeiro, mas ele preferiu se ‘juntar’ e está junto há mais de dez anos. (O que eu acho lindo por sinal!). O segundo da escala dos mais velhos sempre foi um ‘puto véio’, como eu costumo chamar. Mas nessa de mil e um amores, ele deu de presente para a minha avó o primeiro bisneto, que por sinal deixou ela boba que só vendo. Então um dos primos de ‘meia idade’ (passado dos 25) resolveu noivar com a namorada. Depois dele um dos mais novos também noivou e em menos de um ano casou no civil e religioso. Daí o irmão mais velho do atual casado sentiu aquela pressãozinha básica e resolveu anunciar o noivado. Agora estamos assim: a espera de mais um casamento na família. Enquanto isso, quem não casou pelo menos namora. Exceto eu, minha irmã, o ‘puto véio’ e o João Victor, que tem dez anos. A alegria é constante, diga-se de passagem. Depois que a turma casa, os encontros de família ficam ainda mais cheios de gente e as conversas sempre são produtíveis... A não ser quando chega o Natal. Oh data que me mata! Aliás, mata eu, minha irmã e o ‘puto véio’, que finge não mais ligar, já que agora ele tem um filho. Bem, ele tem um filho, mas não está casado daí começam aquelas conversas de toda boa velha família. Vamos ao diálogo com a minha pessoa:
- Cadê o namorado Thays?
- Não estou namorando tio! To curtindo a solteirice!
- Ah! Mas não pode, assim vai ficar pra titia.
- (Pausa para o meu riso forçado)
- Onde já se viu. Passou dos vinte e sem namorado vai ficar encalhada.
- (Risos gerais da família).
- Mas eu não preciso necessariamente namorar, casar e ter filhos antes dos trinta não é tio?
Aí pronto. Toda a família resolve dar palpites, lembrar dos seus ex- namorados que eram ‘queridíssimos’, fazer sugestões quanto ao meu comportamento agressivo e assim por diante.
Parto para o meu mundo Bridget Jones e penso em responder: “E vocês, que estão casados há mais de vinte anos, como andam as trepadas? Vocês ainda fazem sexo ou já se cansaram da cara um do outro?”. É lógico que todos estes pensamentos ficam para o meu mundinho interior. Nos natais e em qualquer festa que o diálogo acima aconteça eu apenas me finjo de louca, bebo meu champanhe, fumo meus cigarros e logo após a ceia me jogo na rua pra dançar até o esqueleto cansar. Afinal, qual o problema em não ter namorado? Qual o problema em pensar diferente dos seus primos? Talvez se existisse uma prima casada a situação seria ainda mais deprimente.
Minha avó que tem 73 anos já se acostumou com esse jeito louco da neta. A netinha ‘mais velha’ foi a primeira a namorar, a primeira a colocar piercing, a fazer tatuagens, cortar o cabelão e se aventurar a ser jornalista. Tudo isso pra uma família que descende de alemães é quase como se auto-deserdar.
Minha avó sempre diz que eu sou a neta mais doida que ela tem, mas também se orgulha (e ela diz isso) em saber que aos 16 anos euzinha já pagava a mensalidade da escola.
Até hoje, quando pego carona com meu primo advogado-que-usa-terno-e-gravata, ele diz: você quer quanto pra tirar esse piercing do nariz? Ou então, se vou trabalhar com uma blusa meio aberta nas costas (local que encontra-se tatuado), o comentário é sempre o mesmo: Ta calor hoje né?
Infames ou não, são os comentários do meu primo certinho, que de tão certinho é um dos caras que eu mais amo na vida!
Então meus amores, parentes e afins, antes de começarem com as perguntinhas infames e os comentários maldosos sobre a vida de uma solteira-feliz-a procura, fiquem cientes de que pra tudo tem uma resposta. E talvez ela não seja tão bem vinda quanto a chegada de um novo namorado. (Nénão?)
Ps.: No fundo no fundo, natais sem comentários maldosos dos titios são como festas sem bebedeiras. A gente nunca se diverte como deveria.